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SOCIEDADE

Começou com a escravidão. Durante séculos, o continente africano é tratado com menosprezo, é vítima da exploração e do controle de vários continentes, principalmente o europeu. A África, antes de ser colonizada pelas potências europeias no contexto do imperialismo e da exploração dos recursos de outros territórios, era dividida em milhares de tribos e povos, cada qual com sua cultura, origem e própria língua. A chegada dos colonos europeus fez com que o território africano se dividisse em fronteiras arbitrárias, reunindo vários povos sob a administração e o comando de uma única potência. O resultado, embora não possa ser percebido tão claramente, é latente no âmago dessas etnias oprimidas, obrigadas a servirem seus dominadores e a conviverem juntas, sendo que carregam em seu passado um enorme histórico de brigas e ressentimentos. A partir dessa colonização opressora e violenta, o continente africano foi feito de gato e sapato pelo restante do mundo, tendo os seus povos controlados, a sua população transformada em escravos, os seus bens naturais destruídos e sofrendo com um dos maiores processos de aculturação da história da humanidade.

O contingente de problemas da África é absurdamente enorme, problemas que existem desde o surgimento de seus países. Estamos tão acostumados com a fome, a miséria e as crises humanitárias presentes no continente que nos esquecemos da grande riqueza cultural lá presente, assim como da sua enorme biodiversidade e gênese de toda a espécie humana. Os problemas africanos apresentam origem no modo como o continente foi colonizado, de forma bastante violenta e autoritária, já que tinha como única serventia para os seus colonizadores a extração de matérias primas e de mão de obra barata para as nascentes indústrias do fim do século XIX.

Como, no continente africano, a única atividade econômica era basicamente a produção de matérias primas para a exportação, não houve o desenvolvimento de indústrias e de outras atividades econômicas mais lucrativas, impossibilitando que os países da África se desenvolvessem economicamente, permanecendo dependentes da venda desses produtos, o que faz com que os seus recursos sejam cada vez mais escassos. Por isso, esses países estão cada vez mais pobres, com taxas de alfabetização insignificantes e altos índices de morte decorrentes das mais diversas doenças, como o HIV, pois não possuem um sistema sanitário eficiente.

A AIDS é, atualmente, uma das principais causas de morte na África. A combinação da baixa escolaridade com as péssimas condições de saúde em grande parte do continente, sobretudo em sua parte oriental, acaba acarretando altíssimos índices de pessoas soropositivas, já que elas não sabem ou não possuem acesso aos meios de prevenção do vírus. Estima-se, por exemplo, que, na Etiópia, mais de 25 mil pessoas se infectam com o vírus a cada semana, provocando um enorme número de mortes e, consequentemente, uma grande quantidade de crianças que perdem seus pais e as suas famílias para a doença. Zimbábue possui a quinta maior prevalência de HIV na África subsaariana; em números, o equivalente a 4% do total mundial.

A parte oriental da África, assim como o seu restante, apresenta elevados índices de conflitos tribais em seu território e pelos mais variados motivos.  O Sudão do Sul separou-se do Sudão devido à negligência que sofria por parte do governo da capital, Cartum, de maioria islâmica, enquanto a população do sul era majoritariamente cristã e animista. Mas não é apenas a intolerância étnica e religiosa que provoca os conflitos na região. O controle da grande quantidade de petróleo do Sudão do Sul é foco de tensão, já que os dois países dependem do produto. O Sudão do Sul alcançou a sua independência apenas após doze anos de uma devastadora guerra civil, que deixou de herança 1,5 milhão de mortos. Ruanda também foi palco de um violento genocídio, como mostra o filme “Hotel Ruanda”, de Terry George.  Duas diferentes etnias, que viviam juntas dentro das fronteiras de Ruanda, e apresentavam muitas características em comum, a minoria Tutsi e a maioria Hutu, viviam em desentendimento. Com a morte, em 1994, do presidente da Ruanda, essas duas etnias de um mesmo povo entraram em guerra e, como os Hutus representavam a maioria, a população Tutsi foi dizimada. Percebe-se que a falta de tolerância religiosa é um grande problema que assola o povo africano, que carrega as marcas do passado dentro de si.

Principalmente devido aos conflitos entre diferentes etnias ou motivados por questões econômicas, muitas pessoas acabam deixando suas casas e/ou seus países em busca de melhores condições de vida, embora, nos campos de refugiados, a qualidade de vida seja mínima e a mortalidade, enorme. A Eritréia, por exemplo, vive em guerra com a Etiópia devido à má definição de suas fronteiras. A falta de recursos do país, por causa do elevado investimento no seu poder bélico, além da já baixa condição de vida de sua população, fez com que, apenas na última década, 5% dos eritreus tenham fugido do país. Outra região, famosa por gerar uma enorme quantidade de refugiados está em guerra há mais de treze anos. Darfur, pertencente ao Sudão, começou seus conflitos com o protesto de minorias étnicas que se opunham ao governo central, porém, nos dias de hoje, adquiriu, além de motivos políticos, razões étnicas e culturais, já que uma milícia islâmica armada, os Janjaweed, domina e maltrata a população não árabe da região, que, por sua vez, prefere arriscar-se fugindo do país a continuar sob o domínio da organização, financiada pelo governo de Cartum. A falta de condições de vida nos países africanos é grande, o que motiva muitas pessoas a saírem do continente e a enfrentarem uma arriscada jornada com o restante da família, para outros continentes, sobretudo o europeu. Além das dificuldades e da grande quantidade de mortos durante o percurso, o crescimento de movimentos e a ascensão de governos conservadores e xenófobos faz com que essas pessoas que buscam um refúgio em momentos de tempestade sejam vistas com maus olhos pela população de outros países.

As dificuldades presentes em território africano não devem ser encaradas como um problema isolado, mas como uma questão que envolve toda a população mundial, afinal somos todos responsáveis pelos males causados ao povo africano. Não é por meio de toneladas de ajuda humanitária que serão resolvidas as precárias condições de vida do continente. Talvez seja o caso de deixarmos de pensar na África como um continente problemático e deficiente, cheio de tristeza e problemas, e passarmos a tratá-lo com mais respeito e seriedade.

África Oriental

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